Castro Alves planeja sua encarnação como esperantista

Quando eu voltar a ser doce criança,

Enchendo a casa de alvoroço e risos,

Colhendo rosas, cravos e narcisos,

A palmilhar na Terra o bom carreiro,

Hei de encontrar o Amor e a Esperança,

Entrelaçando irmãos no mundo inteiro.

II

Quando eu voltar ao orbe velho e amigo,

Negro abismo dos erros e das dores,

Palco de Lutas mil e mil temores,

Onde tanto sofri… mas amei tanto…

Hei de trazer, por Deus, junto comigo,

O bálsamo que enxuga todo o pranto,

Quando eu voltar ao orbe velho e amigo.

III

Quando eu voltar a ter matéria nova,

Moldável cera em santas mãos plasmada,

Eu cresci já palmilhando a estrada

Da Verdade e do Amor do Cristianismo.

Hei de então, jovem, são, nesta áurea prova,

Triunfante demonstrar que o Espiritismo

É a doutrina do Cristo que se renova.

IV

Quando eu voltar à terra tenebrosa

Em cujas trevas, audaz, firme mergulho,

Hei de ensinar que é ignorância e orgulho

Egoísmo, ódio, ciúme e crueldade.

Mostrarei que tem prova dolorosa

Quem abusa da Lei da Liberdade,

Quando eu voltar à Terra tenebrosa.

V

Quando eu voltar à escola de aflição,

Trarei no olhar a luz do Evangelho

E um novo mundo surgirá do velho,

Por que vivi nas asas da verdade.

Numa das mãos trago o Esperanto – a União,

Na outra o Espiritismo e a Caridade

E o Evangelho a cantar no coração.

(Castro Alves e o Espiritismo, Altamirando Carneiro, São Paulo: FEESP, 1993. Cap. 16).