Médiuns Sonambúlicos
“Pode considerar-se o sonambulismo uma variedade da faculdade mediúnica, ou, melhor, são duas ordens de fenômenos que frequentemente se acham reunidos.
O sonâmbulo age sob a influência do seu próprio Espírito; é sua alma que, nos momentos de emancipação, vê, ouve e percebe, fora dos limites dos sentidos.
O que ele externa tira-o de si mesmo; suas ideias são, em geral, mais justas do que no estado normal, seus conhecimentos mais dilatados, porque tem livre a alma. Numa palavra, ele vive antecipadamente a vida dos Espíritos.
O médium, ao contrário, é instrumento de uma inteligência estranha; é passivo e o que diz não vem de si.
Em resumo, o sonâmbulo exprime o seu próprio pensamento, enquanto que o médium exprime o de outrem.
Mas, o Espírito que se comunica com um médium comum também o pode fazer com um sonâmbulo; dá-se mesmo que, muitas vezes, o estado de emancipação da alma facilita essa comunicação.
Muitos sonâmbulos veem perfeitamente os Espíritos e os descrevem com tanta precisão, como os médiuns videntes. Podem confabular com eles e transmitir-nos seus pensamentos.
O que dizem, fora do âmbito de seus conhecimentos pessoais, lhes é com frequência sugerido por outros Espíritos.
Aqui está um exemplo notável, em que a dupla ação do Espírito do sonâmbulo e de outro Espírito se revela e de modo inequívoco.
Um caso de Sonambulismo
Um de nossos amigos tinha como sonâmbulo um rapaz de 14 a 15 anos, de inteligência muito vulgar e instrução extremamente escassa.
Entretanto, no estado de sonambulismo, deu provas de lucidez extraordinária e de grande perspicácia.
Excedia, sobretudo, no tratamento das enfermidades e operou grande número de curas consideradas impossíveis.
Certo dia, dando consulta a um doente, descreveu a enfermidade com absoluta exatidão.
Não basta, disseram-lhe, agora é preciso que indiques o remédio. Não posso, respondeu, meu anjo doutor não está aqui.
Quem é esse anjo doutor de quem falas?
– O que dita os remédios.
– Não és tu, então, que vês os remédios? – Oh! não; estou a dizer que é o meu anjo doutor quem mos dita.
Assim, nesse sonâmbulo, a ação de ver o mal era do seu próprio Espírito que, para isso, não precisava de assistência alguma; a indicação, porém, dos remédios lhe era dada por outro.
Não estando presente esse outro, ele nada podia dizer.
Quando só, era apenas sonâmbulo; assistido por aquele a quem chamava seu anjo doutor, era sonâmbulo-médium.
A lucidez sonambúlica é uma faculdade que se radica no organismo e que independe, em absoluto, da elevação, do adiantamento e mesmo do estado moral do indivíduo.
Pode, pois, um sonâmbulo ser muito lúcido e ao mesmo tempo incapaz de resolver certas questões, desde que seu Espírito seja pouco adiantado.
O que fala por si próprio pode, portanto, dizer coisas boas ou más, exatas ou falsas, demonstrar mais ou menos delicadeza e escrúpulo nos processos de que use, conforme o grau de elevação, ou de inferioridade do seu próprio Espírito.
A assistência então de outro Espírito pode suprir-lhe as deficiências. Mas, um sonâmbulo, tanto como os médiuns, pode ser assistido por um Espírito mentiroso, leviano, ou mesmo mau.
Ai, sobretudo, é que as qualidades morais exercem grande influência, para atraírem os bons Espíritos.”
Allan Kardec. O Livro dos Médiuns. FEB. Itens 172 a 174.